Palavra do Presidente

Sim, uma mulher pode estar no poder!

O que representou a eleição que colocou no poder uma mulher como presidenta da República? Sem dúvida é um marco na história do País, pois, pela primeira vez, uma mulher estará ocupando o cargo mais importante do País.

Isso nos faz refletir e quero dividir com vocês um pouco do que vivenciei nos últimos anos, como sindicalista e mulher e, em minha opinião, ajudou a formatar a sociedade em que vivemos abrindo para as próximas gerações outras possibilidades de olhar para a política através da perspectiva de gênero.

Relembro a história recente da qual fiz parte. A última Conferência Nacional de Políticas Públicas para as Mulheres teve como tema a participação da mulher na política. Não discutimos somente (e eu e minha companheira Antonia Vicente Gomes estávamos lá) as cotas para as mulheres nos partidos políticos, mas sim, uma reforma política centrada em uma perspectiva de gênero, que incluiria repensar os partidos e superar sua estrutura pautada no patriarcado. Trouxemos na mala, nesta ocasião, um sonho de sentar junto com as companheiras e tratar de refletir sobre o porquê nós mulheres estamos sub-representadas nos espaços de poder.

Como já escrevi há alguns anos atrás, cabe a nós, através do nosso voto, produzir uma mudança nos quadros políticos, ampliar o espaço feminino na vida pública, para que as políticas públicas tenham a “cara” das necessidades da mulher, que anseia por uma vida mais digna em um mundo cujas divisões de tarefas entre os sexos promovam a justiça e a igualdade, tanto na vida familiar quanto na política.

No entanto, reproduzimos o contrário e somos minoria nos espaços públicos e quando estamos nestes espaços nos são conferidos cargos de menos expressividade. Um exemplo: quando nos chamam para compor a mesa nos espaços sindicais, quase sempre não a presidimos.

Na realidade quando um partido político apresenta a sua cota de 30% de mulheres em geral é um “catadão” de candidatas, só para cumprir tabela e obedecer à lei; veja a participação das filhas e mulheres dos antigos políticos, que na verdade representam um braço do homem no poder.

Então, nestes anos organizamos um trabalho voltado para pensar e preparar mulheres para ocupar, se assim acharem viável, o lugar que lhes cabem no espaço público. E aí pensamos tanto nos espaços sindicais quanto nos partidos políticos.

O nosso trabalho neste último ano foi reunir mulheres na nossa base, interior de São Paulo, através de oficinas para discutir a participação das mulheres nos espaços de poder; além é claro de pensar em temas como violência doméstica e desigualdade de gênero no trabalho.

Podemos demonstrar através de todo o material levantado em nossos encontros argumentos que responderiam facilmente e nos faria refletir sobre o que queremos para as nossas futuras gerações em relação à igualdade de gênero. O foco tem sido o porquê de não participar da vida política nas suas cidades e também o porquê não votar em mulheres. Um entendimento entre as companheiras ficou bem marcado: “não é que devemos, por força de uma regra absoluta, os 30% de cotas nos partidos, participar destes, mas precisamos da certeza da liberdade em escolher participar ou não caso seja nossa vontade”.

A última eleição foi coberta de chacotas e mensagens deselegantes que circularam via internet e que tinham como alvo a candidata eleita, Dilma Rousseff. Não faziam referências ao perfil da candidata, as suas qualidades ou defeitos, que, aliás, todos os candidatos têm, mas referia-se diretamente ao fato de uma mulher estar fora de “seu habitat social” aquele para o qual somos jogadas sempre que tentamos abrir nossas asas. E sofremos um julgamento social quando não obedecemos e retornamos à esfera privada, lugar, com raríssimas exceções, onde passamos os últimos séculos.

Lembro agora de um discurso que fiz na posse da diretoria do PMDB Mulher; na ocasião fui inúmeras vezes interrompida, ouvindo de meus pares, homens que participavam junto comigo dos quadros partidários, que eu não deveria ressaltar tanto o fato de ser sindicalista e mulher. Ora, o mais interessante é que minha identidade sindicalista fica clara quando no meu discurso além de utilizar a palavra “companheiros e companheiras” deixo ressaltado que não sou rebarba política de antigos “coronéis”. E fico orgulhosa de dividir a minha história com homens que também recontam as suas próprias histórias, como os médicos, os quais compunham a mesa junto comigo e na ocasião vestiam branco para identificar sua profissão naquela reunião política.

Após relembrar nossas andanças e a forma como crescemos, queremos enfatizar nossa proposta, ou melhor, nosso desafio de reunir mulheres trabalhadoras para discutir política e poder. A vitória de uma mulher para presidência da república representa a vitória da tal “Igualdade” tão cantada no artigo 5º da Constituição Federal do País, mas que não existiria simplesmente por força deste, ela é, na verdade, uma construção de todos nós.

Helena Ribeiro da Silva

Presidenta do Seaac de Americana e Região e diretora da Secretaria de Assuntos da Mulher, Criança e Adolescente da FEAAC

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