O tempo de trabalho da mulher

Diante da votação da proposta, que visa diminuir a jornada de trabalho de 44 horas para 40 horas semanais, é necessário discutir qual o impacto que tal política trará para vida das mulheres, e pensar com o recorte de gênero essas questões amplia o horizonte destes direitos.

Tradicionalmente cabe a mulher o papel social de cuidadora na vida familiar, discutir e defender a redução da jornada nos leva a uma questão antiga: a mulher possui duas ou mais jornadas de trabalho. E como coloca a Convenção 156 da OIT, é necessário co-responsabilizar homens e mulheres para o trabalho de cuidador e provedor da família, através da descontrução cultural de padrões que geram desigualdades.

A noção de mulher “cuidadora” e “provedora” e do homem “provedor” desequilibra, a vida, tanto de um como de outro na relação entre trabalho e família, promovendo uma série de conseqüências para o trabalho e para o capital.

A mudança deste paradigma requer políticas públicas que se concentrem na igualdade de diretos e na divisão mais equânime do trabalho reprodutivo e produtivo. A intenção é (re)significar os papéis sociais de gênero produzindo mais igualdade, para superar a idéia da mulher como força de trabalho secundária decorrente do fato de ser vista como “cuidadora” impedindo-a, mais por força do imaginário cultural, a desenvolver-se por completo na vida pública.

Exemplo disto é a própria desigualdade de salários, a visão de que o trabalho feminino é menos produtivo. Além do acúmulo de jornadas que traz esgotamento e adoecimento aos corpos femininos. Pensar em políticas públicas para alterar essa realidade na tentativa de conciliar e co-responsabilizar ambos, homens e mulheres, é reduzir a jornada feminina. Vale notar que as mulheres estão adoecendo pelo estresse desencadeado pela competitividade no mercado de trabalho.

Para isso seria necessário um novo modelo de produção, de políticas públicas e de família. Trabalho e família são questões centrais na agenda do trabalho decente. A igualdade de gênero no mercado de trabalho jamais será equilibrada se não houver repactuação dos papéis sociais e das relações de trabalho. O tema não diz respeito somente às mulheres e sim aos homens e mulheres.

Na maioria das famílias chefiadas por mulheres, as mulheres cuidam sozinhas de seus filhos e não têm com quem dividir os cuidados. Nas famílias chefiadas por homens, eles têm com quem dividir e delegar os cuidado.

A igualdade de gênero no mercado de trabalho não se equilibrará se não houver repactuação dos papéis sociais nas relações de trabalho. O tema não diz respeito somente às mulheres e sim a homens e mulheres.

Então, desta que forma podemos pensar a diminuição da jornada de trabalho para as mulheres. Ao reequilibrar, compartilhar as tarefas encontramos uma saída, daí, a necessidade em repensar os papéis de gênero, promovendo através do estado, uma rearticulação com políticas públicas que permitam isso. Sem esquecer, e abrindo um parêntese, o quão impactante que essas estratégias serão nos lares e nas empresas.

Assim poderemos acreditar que diminuir a jornada de trabalho assalariado trará a mulher os mesmos benefícios que aos homens, ou seja, tempo para renovar-se de forma qualitativa para o trabalho e melhorar a qualidade de vida tendo mais tempo para: cuidados com os filhos; descanso; aperfeiçoamento profissional; lazer e cultura; saúde e outros.

Helena Ribeiro da Silva

diretora da Secretaria de Assuntos da Mulher e presidenta do SEAAC de Americana e Região

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